terça-feira, 7 de abril de 2009

Tempestade

Uma forte tempestade caía lá fora. Os pingos grossos batiam pesadamente no vidro com a intenção clara de ultrapassá-lo. A água escorria sinuosa pelas janelas, pelas sacadas, pelas calhas e pelas paredes do prédio até chegar à rua e correr livre. Sandra estava encolhida num canto da cama desarrumada, os olhos grandes muito vermelhos e a calça de moletom manchada de café em diversos pontos. Olhava fixamente para fora, absorvendo a chuva. Sua maior vontade era pular dali e escorrer pra algum lugar. Bater forte nos guarda-chuvas, nas pessoas e correr sem precisar voltar. Ouviu o barulho da chave girando na porta, levantou-se e foi até o banheiro. Parou em frente à pia e, encarando o espelho, abriu a torneira e deixou a água cair em suas mãos. Queria ser fria daquele jeito e fugir pelo ralo sem dar satisfações.

Danilo entrou em casa encharcado, tirou o casaco e os tênis molhados e colocou-os sobre a bancada da cozinha. Sentiu um arrepio desagradável quando uma gota gelada escorreu da nuca até o meio de suas costas. Decidiu que faria um pouco de café para esquentar o corpo. Enquanto colocava a água no fogo, desabotoou os primeiros botões da camisa úmida, passou os dedos entre os cabelos negros e respirou fundo. Sandra estava parada na porta, os olhos atentos na chaleira.

-Não agüento mais - falou, a voz um pouco afogada. - Não te agüento mais.

A água no fogão começava a ferver. Danilo olhou para a mulher tempestuosa a sua frente e sorriu seu sorriso morno.

Sandra arregalou os olhos marejados e trovejou enquanto a água borbulhava.

As lágrimas quentes correram por suas faces rubras e trêmulas.  Ele colocou a água fervente no pó de café. Olhou novamente para a mulher. Segurou uma de suas mãos languidas com a sua mão forte e entregou a xícara de café a ela, que ainda soluçava baixinho. A chuva enfraquecia e o café esfriava bem devagar. Danilo a abraçou com todo o seu calor e uma última lágrima evaporou do rosto de Sandra, anunciando a calmaria.

 

PS: Se eu pudesse, eu chamaria esse texto de "o maldito texto do elemento que eu não sabia nem por onde começar", então peço desculpas se o texto não ficou legal o suficiente. Grata :)

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. larissa, isso foi um flashback horrendo do meu último relacionamento. no final quem acabou escorrendo com a chuva fui eu, mas em todo caso, gostei do texto.

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  3. Engraçado... eu leio seus textos e sinto que eu poderia ter escrito. Espero que você não considere isso uma ofensa.... só notei uma compatibilidade de estilo.

    De qualquer forma, eu não poderia ter escrito esse. Não sei fazer café.

    Muito bom blog, parabéns.

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